sábado, 10 de dezembro de 2011

Vacinas: IV - A Primovacinação

Primovacinação é a série de vacinas aplicadas nos filhotes com objetivo de imunizá-los contra as doenças provocadas por microrganismos que originaram estas vacinas. Eu já falei aqui que os cães e gatos não precisam ser revacinados anualmente, mas para isto é muito importante que a primovacinação seja bem feita.
O feto desenvolve um sistema imune funcional apartir dos 45 a 50 dias de gestação. O nível de imunidade materna no nascimento vai variar consideravelmente entre os membros da ninhada, mas em geral será alta até os 10 a 14 dias após o nascimento.
Entre 2 e 4 semanas  enquanto estão sendo amamentados o sistema imune dos neonatos amadurece e torna-se apto para assumir suas funções. No momento do desmame o sistema imune sofre com o decréscimo dos nutrientes e adaptação a nova alimentação.
A imunidade passiva natural é constituída dos anticorpos que estavam circulando no organismo da mãe e foram transferidos ao filhote através do sangue que alimenta a placenta, e do colostro (primeiro leite - 36 a 48 horas após o nascimento). Mas a imunidade passiva natural contém somente  anticorpos maternos contra doenças que a mãe foi vacinada ou que foi exposta naturalmente. Exemplo: se a mãe nunca entrou em contato com o vírus da Parvovirose, nem foi vacinada contra esta virose, seus filhotes não receberão estes anticorpos e serão suscetíveis a esta doença.
Os anticorpos maternos geralmente circulam no sangue dos filhotes por um período que vai de vários dias a várias semanas, e lentamente diminuem sua quantidade. Quanto maior o título (quantidade) de anticorpos maternos, maior será o dos filhotes, e a duração da imunidade passiva encontra-se na dependência tanto do título quanto da meia vida das imunoglobulinas específicas (anticorpos).
A presença de anticorpos maternos é a causa mais comum da falha vacinal em filhotes. O período de tempo em que a quantidade de anticorpos maternos é capaz de bloquear um vírus vacinal (lembre-se: vacinas são antígenos, serão naturalmente atacados e neutralizados pelos anticorpos maternos), e menor que a necessária para prevenir uma infecção é chamado de janela de susceptibilidade. É quando a despeito da vacina, os filhotes podem contrair as doenças.
 A extensão da janela varia para cada ninhada e entre filhotes de uma mesma ninhada, e varia ainda de acordo com o agente infeccioso e o tipo de vacina.
Veja este exemplo, de filhotes de cão vacinados contra Parvovirose: um estudo cruzado (tipo de tratamento estatístico) com filhotes vacinados em diferentes idades demonstrou que com seis semanas de idade somente 25% dos animais foram imunizados. Com 9 semanas 40% dos filhotes responderam a vacina e tornaram-se protegidos. A percentagem de filhotes que obtiveram sucesso na soroconversão aumentou para 60% as 16 semanas de idade e 95% para filhotes com 18 semanas de idade.
 Como é impossível saber qual o melhor momento de vacinar determinado filhote, na tentativa de driblar a janela de susceptibilidade, os filhotes recebem uma série de doses iniciais da vacina, 3 ou 4.
O objetivo da vacinação é a produção de células de memória (ver post Revacinação anual: o mito) mas estas células não são produzidas instantaneamente, mas 2 a 3 semanas após vacinação se a vacina for  injetada ou alguns dias após  se a vacina for intranasal.
Por isto entre as doses da primovacinação devemos guardar um intervalo de 3 a 4 semanas. A resposta a segunda dose será maior e mais rápida que a da primeira dose, grande quantidade de anticorpos será produzida esta reação do sistema imune é chamada resposta secundaria ou resposta anamnéstica. Quando isto acontece o animal é considerado imunizado.
Outra razão para as 3 ou 4 doses iniciais é a possibilidade de que nem todas os antígenos de uma vacina múltipla (8 ou 10) façam a soroconversão, pois os filhotes possuem sistema imune ainda imaturo, em desenvolvimento.
A vacina não confere imunidade imediata, leva de 5 a 15 dias para fazer efeito. Deve-se ter cuidado com os filhotes, não os expondo a outros animais que possam transmitir virus e evitar clinicas veterinárias, local onde temos muitos patógenos circulando.
Outro cuidado que temos que tomar é mantê-los (os filhotes) em locais limpos e abrigados do frio, pois a maior causa de redução da resposta imune durante a primeira semana é a  hipotermia, portanto é importante que uma temperatura corporal de 37º C seja mantida durante este período critico.
Vacinar filhotes de cão e gato com 4 a 5 semanas de idade,  somente em casos muito estritos, como quando perdem a mãe logo ao nascer, pois vacinas, em especial as que contem vírus vivos podem causar sérios problemas, lembrem-se que qualquer vacina é imunossupressora.
Aos 8 para 10 semanas o neonato esta próximo de ter um sistema imune de um adulto e apto para responder satisfatoriamente as vacinas aplicadas. Vários pesquisadores, entre eles Dr. Schultz recomendam que a primovacinação inicie entre seis e oito semanas de vida e continue até 14 ou 16 semanas.
 Dr Schultz ainda recomenda que a última dose da primovacinação deve ser aplicada as 22 semanas para cães filhotes 16 semanas para gatos filhotes, pois novas pesquisas  indicam que 20% dos cães filhotes tem ainda  aos 18 semanas de vida, anticorpos maternos suficientes para impedir vacinação  bem sucedida contra Parvovirose.
O aspecto mais importante de um programa de vacinação é ter a certeza de que a última dose de vacina seja administrada quando não houver mais a presença de anticorpos maternos na circulação. Cepas vacinais mais imunogênicas ou menos atenuadas são capazes de sobrepujar mais precocemente a imunidade residual transferida pela mãe.
Bibliografia consultada: 

Um comentário:

  1. Olá, gostei do texto mas nao compreendo como uma vacina possa ser imunussupressora. Terei entendido mal? Alguém pode me explicar SFF? Obrigada monica

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